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[20h35 - 04.11.2010]

domingo, 12 de setembro de 2010

Narrativa Ainda Sem Titulo #4

Hora e Dia do Duche: Mensagem de Fora da Casa de Banho

Foi por não querer ser uma senhora que bati com a porta.

Sentia-me asfixiada pelo mundo rosa choque, verde alface, vermelho e branco que era aquilo a que eu chamava de casa.
Rodeada por cores berrantes, senhoras berrantes, tudo berrava e me sufocava a ponto de querer fugir ou não inspirar mais.
 Cada parede, espelho, candeeiro e tapete forçava-se perante a minha vista, numa falsa ostentação de luxo e modernidade.

Não nos falávamos.
Eu só não era invisível porque não era capaz de me fundir naquele ambiente.
Porque a saia era comprida demais, porque a camisa era branca demais, porque o casaco é do ano passado, porque não havia base nem cores garridas, nem pulseirinhas, vernizes, flores no cabelo ou sombra nos olhos.

Não nos falávamos.
Porque dava demasiado trabalho, ao fim de tantos anos, incomodar-se com o meu aspecto.
Porque o que ouvia não era coisa de uma menina decente.
Porque eram muito mais decentes os mexericos com as amigas ao telemóvel, que parecia estar sempre a tocar entre chamadas e sms.

Bati com a porta.
Da vivência apenas guardei o multibanco.
Caminhei, entre ruas e avenidas, estradas e caminhos até encontrar o mar.

Somente uma mala às costas com uma muda de roupa.
Somente a vontade de descobrir um mundo que seja meu, que mexa comigo, que me faça viver.
Somente a crença de que me posso adaptar algures sem ter de mudar algo em mim.

Passaram meses.
E continua a surgir dinheiro na conta, como se eu considerasse voltar amanhã.
Não sei sequer se deu pela minha ausência.

2 comentários:

  1. O que é que te acontece em Maio rapariga do chuveiro? Este textinho cheira a revolta e a força!

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  2. Oh querida...o que se passou??

    beijinhos

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