Hora e Dia do Duche: 18h49; 24.07.2010
Duração: 00h25m
Eu sempre quis fazer alguma coisa da minha vida, desde que me lembro.
Mas tive sempre dificuldade em decidir o que queria ser quando fosse grande.
Aos 3 anos queria ser uma menina da escola daquelas que sabem ler e escrever.
Aos 4 anos queria ir fazer uma espécie de surf nos anéis de Saturno, que me fascinaram quando vi uma imagem do planeta num Altas que andava perdido por casa da minha avó.
Aos 5 revoltei-me porque o meu pai não me leu um livro e aprendi a ler sozinha, aos pouquinhos. E queria ver uma miudinha pelas costas porque ela me roubava os amigos.
Aos 6 queria ser como as meninas do 4º ano.
Aos 7 quis mudar de escola e os papás foram atrás.
Aos 8 queria ser melhor que o menino querido da professora. E fui.
Aos 9 queria sair daquela escola de crianças, eu estava muito grande para aquilo. E consegui ser expulsa da aula pela primeira vez.
Aos 10 queria umas calças largas como as que estavam na moda na escola nova.
Aos 11 queria ver-me livre do rótulo de miúda esperta, fiz toda a porcaria que pudesse fazer. Amei ter sido uma aluna de extremos, a melhor nas notas, a pior no comportamento. (Agora simplesmente penso que era estúpida.)
Aos 12 queria ser engenheira de qualquer coisa e continuava a tentar dar cabo da fama de boa aluna.
Aos 13 quis ser uma melhor menina, quando vi uma bebé a aparecer-me em casa. Decidi que queria ser bioquímica.
Aos 14 queria saber o que é que os testes psico-técnicos diziam que eu devia ser. Inconclusivo, eu tinha jeito e aptidões para muita coisa, desde artes a ciências, com letras pelo meio.
Aos 15 decidi-me por ciências, mas quis confirmar que eu dava para aquilo.
Aos 16 queria arranjar emprego, queria lá saber da profissão, precisava de dinheiro.
Aos 17 queria fazer 18 para não ter de trazer os meus pais atrás de mim para assinar papeis.
Aos 18 queria fazer qualquer coisa que metesse genética pelo meio. Fiz a candidatura à faculdade com um-dó-li-tá e entrei em biologia. Desisti quando finalmente meti na cabeça que eu não servia para ciências.
Aos 19 queria fazer mais qualquer coisa da vida que não trabalhar no Mc Donald's. Queria estudar.
Aos 20 voltei a candidatar-me à faculdade e deixei de me preocupar com o que quero ser quando for grande.
Eu simplesmente nunca vou ser grande. Não passo do metro e cinquenta e seis.